23.2.08

Lucas Santtana - Eletro Ben Dodô (2000)


Imaginem uma sessão de estúdio com Fela Kuti, Jimmy Hendrix, James Brown, Bob Marley, Chico Science e Dodô, o criador do Trio Elétrico. Parece sessão espírita, eu sei. Mas estamos em Salvador, então é possível isso acontecer. Se todas essas entidades se reunissem e tivessem que escolher um único representante nesse mundo, esse cara seria o Lucas Santtana.


Em 1994, quando lançaram o Acústico do Gilberto Gil, pouco se notava um tímido flautista, de camisa branca e um corte de cabelo comportado. A impressão que ficou foi de um músico impecável, erudito em todos os aspectos. 6 anos depois, essa impressão se transformaria com Eletro Ben Dodô, a estréia solo do “escolhido”.


Se hoje sua obra-prima 3 Sessions in a Green House está em alta, seu início de carreira não é menos brilhante. Eletro Ben Dodô deixou muito gringo de queixo caído e fez a gente coçar a cabeça pra tentar entender o que ouvia. Eu fui um deles. Apesar de gostar do disco desde a primeira vez que ouvi, só após uns anos algumas fichas foram caindo.


De cara, um aviso. Se você tem o preconceito pequeno-burguês paulistano contra guitarras da Bahia, azar o seu. Lhe aconselho a deixar o preconceito de lado e fazer uma boa viagem.


Alguns diriam que Eletro Ben Dodô deveria vir com um manual, ou um glossário, pra explicar todas as suas referências. Mas não precisa. Reclame 302, a vinheta de abertura, já mostra qual a genética de Lucas, e abre o caldeirão de ritmos que vão se alternando durante o disco.


A lição continua com E Muito Mais, faixa auto-explicativa que ajuda os leigos a entenderem melhor o que está dentro dessa mistura. Passada a parte mais teórica, vamos à aula prática.


Doing it to Death define em sons o que é o conceito do disco. Se trata de um dub tropicalista da música de James Brown, algo como se o gênio do funk viesse pra Bahia pra ser batizado pelo seu Pai-de-Santo. Genial.


Após as lições, a hora do recreio. Aí é relaxar com o tom bem humorado de Deixe o Sol Bater – faixa regravada em 3 Sessions. Inho, Inho tem um quê de dance music, e claro, há o carnaval. Domingo no Candeal e Jimmy Gandhy chamam o povo pra rua e colocam mais temperos pro caldeirão. E como carnaval sem namoro não existe, cabe espaço pra De Coletivo ou de Metrô e a balada de Herbert Vianna, Mensagem de Amor.


No final da aula, vale passar por Enrolado Fio Preto, que é uma revisão do que estudamos nas músicas anteriores, tira as dúvidas que ficaram e profetiza a lição pra próxima aula, de que o balanço pop não vai cair.


E não caiu mesmo. Pra mim, Lucas Santtana se tornou o melhor artista solo em atividade no Brasil, pelos discos e pelo posicionamento ideológico sobre produção musical nos dias de hoje. Impossível tentar analisar um disco seu fora desse contexto e isolado do outro. Eletro Ben Dodô é apenas a sua primeira cartilha. Tire uma xerox da matéria e passe de ano sem recuperação.



Eletro Ben Dodô (2000)

01. Reclame 302
02. Deixe o Sol Bater
03. Inho, Inho
04. Domingo no Candeal
05. De Coletivo ou de Metrô
06. Itapuã @no 2000
07. Doin' it to Death
08. Mensagem de Amor
09. E Muito Mais
10. Jimi Gandhy
11. Funky Bahia
12. Festejo

3 comentários:

Carolina Belizário disse...

Valeu! Ótimo blog, man!

Dani Sampaio disse...

Eu tinha que comentar! Que texto lindo, e verdadeiro!
Comprei esse cd em meados de 2002, numa promoção de supermercado, eu já amava a De Coletivo ou de Metrô, que conheci na MTV. Ouvi e gostei na hora, apesar de ele não ter nada a ver com o que eu ouvia. E ouço até hoje, e tô ouvindo agora mesmo!

Unknown disse...

Caracas galera. Gosto muito do Lucas Santanna e tô atrás desse disco, mas na internet só acho algumas faixas. Não acho a versão de estúdio de domingo no candeal, reclame 302 e outros..
Será se não rola de alguém passar esse álbum na forma digital???