24.3.08

Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)

Atom Heart Mother, Pink Floyd
Eis aqui um dos pilares da história do rock progressivo mundial. Se bem que chamar o Atom Heart Mother de rock progressivo é um equívoco. O 5o. álbum do Pink Floyd não é só rock progressivo. É a psicodelia no seu mais puro estado. Pra mim, é uma obra-prima.

A julgar pela capa, fica clara a fonte de inspiração do grupo. Como uma coisa leva à outra, podemos que dizer que a enigmática foto acima escancara a linha evolutiva do disco. A vaquinha come o capim, depois ela faz seu cocô de toda tarde, que interage com o pasto local, fato que dará origem a inocentes cogumelinhos. Inocentes, até que Roger Waters e seus amigos encontrem os tais cogumelos e usufruam deles no chá da tarde típico dos britânicos.

A maior prova disso é a faixa título, uma jornada lisérgica de mais de 23 minutos, formada por seis partes, que foram concebidas separadamente e depois unidas como uma única peça. Apenas no seu lançamento foi que ela recebeu o nome auto-explicativo de Atom Heart Mother. Seu nome provisório era ainda mais sugestivo: "The Amazing Pudding". Genial!

E põe pudim nisso. Atom Heart Mother requer fones de ouvidos, pra você experenciar a música, como uma meditação, ou se você preferir, uma expansão da sua mente. Pra mim, ela é totalmente Kubrickiana, em suas várias partes. O gênio do cinema bem que tentou usá-la na trilha de Laranja Mecânica, mas a banda não deixou. Analisando a obra inteira do diretor, mesmo na sua fase mais recente, pode-se notar a influência que a modesta vaquinha lá de cima exerceu em Kubrick.

Não vou nomear aqui cada parte da faixa, mas a introdução é como o início de 2001, Uma Odisséia no Espaço, crescente e intrigante. Depois, segue a malícia e leveza de Lolita. Lá pelos sete minutos, o clima fica tenso, com um coral sinistro - O Iluminado. Em seguida, David Gilmour solando à vontade, como os soldados de Nascido Para Matar cantando o tema de Mickey Mouse no Vietnã. Claro que não poderiam faltar os ruídos e a perturbação do próprio Laranja Mecânica.

Antes que você leitor, pense que eu usei do mesmo pasto doidão, um aviso: Atom Heart Mother pode levar você longe, muito longe. Essa é a minha experiência. Esteja disponível para o que ela poder fazer por você e seja feliz.

Depois dessa paulada sensorial, um descanso. If é perfeita pra deixar o cházinho granular sua paisagem. Ideal pra ouvir olhando pras montanhas, pensando em absolutamente nada. Summer '68 é o tema certo pra hora que o amor se expande em você, tudo vira uma grande bolha dourada e a fonte de iluminação do universo vêm do seu plexo solar. E dá pra relaxar mais ainda no pôr do sol embalado com Fat Old Sun, deitado na grama, vendo o mundo como se fosse em Super 8.

Não satisfeita, mas ainda viva, a banda ainda nos manda mais um 'curta-metragem', a bonita, singela e não menos maluca Alan's Psychedelic Breakfast. Por que nada melhor que começar o dia com... mais chá!! Esse caras são insaciáveis! Sorte nossa, que não precisamos causar furúnculos nas partes tomando plantas de poder. Basta aumentar o volume e ampliar seus horizontes matinais!

Na minha opinião, Atom Heart Mother é uma experiência sonora que deve ser vivenciada por qualquer indivíduo mais sensível à Natureza, seja ela humana ou divina. Se você acredita no asfalto, na gravata ou no dinheiro, provavelmente você irá discordar do que digo. Mas se existe em você uma brecha pra sua essência se manifestar, talvez esse disco possa lhe ajudar a descobrir o que ela quer falar pro mundo.

Ouça, e deixe-se ouvir.

P.S.: Esse post deve-se à minha recém realizada Vision Quest, que teve como trilha-sonora essas e outras músicas, e ao todo o poder que o Deus Som exerce sobre nós.

P.S. (2): Demorei três semanas pra postar, por que só agora estou voltando ao mundo. Peço desculpas.


Atom Heart Mother (1970)

1. Atom Heart Mother
a. Father's Shout
b. Breast Milky
c. Mother Fore
d. Funky Dung
e. Mind Your Throats Please
f. Remergence

2. If
3. Summer '68
4. Fat Old Sun

5. Alan's Psychedelic Breakfast
a. Rise And Shine
b. Sunny Side Up
c. Morning Glory

10.3.08

Urban Species - Listen (1994)


No ano de 2000, o capeta em forma de guri Gustavo Rocha e a guru pós-moderna Maysa Crowder (também conhecida como Marisa Cláudia), voltavam ao Brasil depois de um ano e meio fora do país. Eu havia iniciado a jornada no exterior com eles, mas como voltei logo cedo pra saia da mamãe, fiquei só na torcida pelos dois. Eu estava contente em ter os bons amigos de volta, que além da presença indispensável, trouxeram na bagagem várias pérolas sonoras.

Com certeza, a novidade que mais abalou as estruturas desse rapaz latino-americano de pullover foi o disco de um trio inglês de hip-hop que na época já era raridade. A preciosidade apresentada pelo casal Cláudia Rocha se chamava Urban Species, e o disco raro era o Listen.

Primeiro, o disco me lembrou o Massive Attack, mas dá pra perceber que as influências dos criadores do Trip-Hop se misturavam com o Acid Jazz e o Funk, com umas pitadas de Dub, que formavam bases de muita responsa.

Listen abriu meus olhos para a chamada HipTronica, o hiphop recheado de elementos eletrônicos que hoje faz a nossa cabeça, como UNKLE, Dr. Octagon, Dj Shadow e outros do gênero. A faixa-título Listen tem a participação de Mc Solaar, importante rapper francês do qual também virei fã a partir desse disco. Sua presença é marcante, trazendo seu toque de 'écoute' à raiz britânica do Urban Species.

Não dá pra negar a minha devoção ao Listen, nem a influência que ele teve no meu gosto musical. Mesmo com um vocal ora pop, ora dancehall, ora rap, foi impossível ficar indiferente à faixas como Musikism e The Experience.

Spiritual Love é a balada romântica, com um vocal à la PM Dawn, mas que tem um belo resultado e ajuda qualquer feioso a conquistar sua musa platônica. Just a Matter of Time é mais sensual e maliciosa, com uma base trip-hop bem bacana, que serve bem pra depois que a gatinha achou você um fofo e agora já está pronta pra te encarar mais de perto.

The Ropes é outra básica do disco, que além de ter duas partes - depois dos 2:35 min ela vira um dub - possui uma curiosidade: Foi daqui que o pseudo-magnata, megalômano e chorão vocalista do Charlie Brown Jr. tirou sua famosa 'Zóio de Lula', que virou um hit no Brasil. A melodia é a mesma, ele só fez uma versão em português, sem informar créditos nem nada. No meu tempo isso era chamado de plágio, mas hoje o chorão é o homem mais poderoso desse país, processa até companhia aérea, então vamos falar o quê? Vai ver que o nome Zóio de Lula é em referência ao olho-grande do rapaz.

De qualquer forma, Listen é metade da obra do Urban Species, que lançou o disco Blanket em 1997 e saiu de cena depois disso. A banda é tão obscura que é dificil achar informações sobre ela. Quem souber mais sobre o paradeiro dos caras me avise, por favor.

Esse post eu dedico pro casal Cláudia Rocha, que me apresentou o som e emprestou o disco que eu nunca mais devolvi. Mas não é por que sou sacana não, levaram o disco em uma das 342 vezes que tive meus Cds roubados, o que deixou o Urban Species com uma mística maior ainda. Torço pra que, pelo menos, o ladrão que levou o disco esteja mais em paz e curtindo o som dos caras, que é muito bom.

*Arquivo emprestado do Find a Soul for Sale.


Listen (1994)

01. Hide and Seek
02. Gotta Have It
03. Musikism
04. The Ropes
05. Spiritual Love
06. Just a Matter of Time
07. Listen
08. The Consequence
09. The Experience
10. No Particular Title
11. Brother
12. Light at The End of The Tunnel

5.3.08

João Gilberto - João Gilberto (1973)


Que tal um pulinho até a praia? Imagine você, relaxando, com o pé na areia... sentindo a brisa do mar... Em plena quarta-feira de sol, que tal? Nada melhor. Pois é isso que você vai sentir ao ouvir o homônimo do oráculo da bossa nova, João Gilberto.

Lançado em 1973, o singelo e magnífico disco tem a marca registrada de João Gilberto. Voz e violão apenas, um misto de chocalho e chimbal de percussão e só. E a brisa. Toda essa simplicidade vem inteiramente permeada por uma atmosfera preguiçosa e marota. Mas estamos na praia, e na Bahia. Então é ideal.

O repertório é formado por obras de outros compositores. Apenas Undiú e Valsa (Como São Lindos os Youguis), são composições próprias. Fora as duas, o que temos é uma aula de história do samba no formato brazilian jazz, adorado mundo afora.

O que pode parecer chato aos ouvidos do século XXI (voz e violão? Existe isso ainda?) acaba se tornando muito agradável, que funciona fácil, sem perder o ritmo. Apenas Avarandado é mais bucólica, porém eficiente em tranquilizar qualquer ambiente.

A batida rápida, principalmente nas geniais Falsa Baiana, Eu Quero Um Samba e Izaura - que tem a participação de Miúcha nos vocais - garante a malandragem pra brisa marítima do disco. Se já estávamos de peito aberto, com vento no cabelo e na sombra do coqueiro, essa é a hora de pegar uma cervejinha e relaxar mais ainda.

Agora, mais mareados, podemos honrar de vez a origem do Samba e lamentar um pouco. Pode ser pela saudade da terra-natal (Eu Vim da Bahia) ou pelo amor que se perdeu (É Preciso Perdoar). Mas sem lamentar demais, pois o sol está brilhando e só se vai ao samba pra sorrir.

Trilha sonora ideal pra quando não temos vontade de nada. Só um sol de frente pro mar. Se der vontade de fazer alguma coisa, ouça de novo, relaxe e deixe a vontade passar.


João Gilberto (1973)

01. Águas de Março
02. Undiú
03. Na Baixa do Sapateiro
04. Avarandado
05. Falsa Baiana
06. Eu Quero um Samba
07. Eu Vim da Bahia
08. Valsa (Como São Lindos os Youguis)
09. É Preciso Perdoar
10. Izaura

3.3.08

Iron Maiden - A Real Dead One (1993)


Já disse o filósofo que, para evitar a ressaca, o segredo é manter-se bêbado.

Ontem tivemos em São Paulo um show do Iron Maiden com lotação esgotada, e posso dizer com segurança que hoje temos 40 mil ressacados pela cidade. Pra não perder o pique, segue aqui mais uma pérola da Donzela.

Em 1993, eu estava no auge de minha devoção à Steve Harris e seu time. Tinha diversas imagens da divindade Eddie espalhadas pelo meu quarto e meus cadernos de escola, e sempre tinha à mão um capítulo da Bíblia Eddiana em formas de fitas k-7, caso eu precisasse de alguma resposta diante das minhas dúvidas existenciais.

A Real Dead One teve seu lançamento na sequência de A Real Live One. Ambos foram lançados em 1993 e podemos considerar que são o lado A e o lado B da turnê do disco Fear of The Dark. Se o 'lado A' ficou mais nas músicas recém lançadas na época, aqui o foco é outro.

O repertório é pautado nos discos Iron Maiden (1980), The Number of The Beast (1982) e Piece of Mind (1983). Não é por nada, mas na minha opinião, A Real Dead One é muito mais instigante, pois é difícil termos registros oficiais das músicas da primeira fase do grupo, quando Paul Di'Anno comandava os vocais.

Além das clássicas The Number of The Beast, The Trooper e Run To The Hills, vale a pena conferir Prowler, Transylvania e - a mais bela de todas - Remember Tomorrow na voz de Bruce Dickinson.

Não quero entrar aqui no infinito debate de qual dos dois vocalistas se saiu melhor com essas músicas. Pra mim, discutir isso é igual mesa redonda debatendo se foi ou não impedimento pra um jogo que terminou 6x0. A vitória do Iron Maiden sempre é de goleada, seja Di'Anno ou Dickinson como centroavantes.

O que dizer do Iron Maiden? Eu não fui no show de ontem, mas imagino que tenha sido impecável, como este aqui. Diante dos mestres, não há nada a dizer, apenas ouvimos e veneramos.


A Real Dead One (1993)

01. The Number Of The Beast
02. The Trooper
03. Prowler
04. Transylvania
05. Remember Tomorrow
06. Where Eagles Dare
07. Sanctuary
08. Running Free
09. Run To The Hills
10. 2 Minutes To Midnight
11. Iron Maiden
12. Hallowed Be Thy Name